segunda-feira, 27 de maio de 2013

Afinidades


Afinidade é um dos poucos sentimentos,
que resistem ao tempo e ao depois.

A afinidade não é o mais brilhante,
mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.

É o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência,
os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.

Quando há afinidade,
o encontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto,
no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do virtual sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.

A afinidade se manifesta
e existia antes do conhecimento.
Irradia durante e permanece,
depois que as pessoas deixam de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim,
sai claro diante de alguém com quem tem afinidade.

Afinidade é ficar longe,
pensando parecido a respeito dos mesmos fatos,
que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro,
com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com o outro.
É não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, jamais explicar.
Apenas afirmar. Quem sente com,
compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.

Afinidade é ter perdas semelhantes
e iguais esperanças.
É conversar no silêncio,
tanto nas possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidade vividas.

Afinidade é retomar a relação,
no ponto em que parou,
sem lamentar o tempo de separação.

Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades da vida,
para que a maturação comum possa se dar.
E para que cada um pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro,
sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

Arthur Távola

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